Nasci com mais de 4 quilos
Berrei no mundo pela primeira vez em uma madrugada chuvosa nas terras uruguaias
Vim pro Brasil ainda chiquito e todas as minhas lembranças são dessa terra que me acolheu
O clima quente, os corpos suados, os belos amantes, os estonteantes cenários
Pela manhã, café sem açúcar, coturnos, músculos, uma barba me arranha ao som de canários
Sou forte, robusto e de aparência grosseira, esculpi no barro a minha vida inteira
Meus alunos artesãos, mãos fortes e firmes a contornar a criação
Eu olho pelo canto dos olhos, para não gerar desconforto ou distrair meu pupilo
O olhar atento e penetrante que dedicam as esculturas me enche de tesão
Sinto o suor escorrer pelas minhas costas, um deleite toma conta de mim
Observo disfarçadamente enquanto um dos mais aplicados arregaça as mangas, parece não sersuficiente e ele balança a camisa para se refrescar
No sobe e desce do tecido, vejo até o seu umbigo, cada contorno, cada gomo me levam a outra dimensão

Desando a forma que estava trabalhando, mas não consigo esconder meu sorriso, pois nada me convenceria de que me distraí em vão
Aos poucos vamos todos finalizando a tarefa, um a um, os homens vão deixando o atelier
O cheiro é forte no fim das tardes de verão, suor sagrado dos meu meus amores secretos
Anoitece, limpo tudo e estou pronto para ir pra casa, no caminho já imagino o whisky que bebo como uma oração

Ao virar a terceira esquina, penso ter um homem muito alto a me seguir
Zigzagueamos por algumas quadras, até chegar em meu jardim
O homem apressa o passo e acena com a mão
"Espero que ainda lembre de mim", ele diz sem cerimônia
Eu calculo as formas da sua face e tento me recordar, demoro mais do que o esperado e ele se adianta "Já faz um ano, porque nunca mais me ligou?"
Aos poucos eu reconheço a voz e aquele tórax largo, de fato, me parece familiar
Peço desculpas ansiosamente tentando lembrar algum nome ou ocasião
Sem saber o que dizer, com um gesto sutil o convido a entrar em minha casa
Ele pede licença e elogia a decoração, rapidamente, eu digo que não entendo muito disso, já aluguei com a mobília
O calor se tornava mais insuportável a cada segundo e na terceira dose de whisky ele começa a gargalhar e com uma voz um tanto arrogante se levanta e diz "Não vais mesmo lembrar de mim? Por acaso lembra-se dele?" Ele abre o zíper da calça e um monumental caralho brilhoso salta na minha frente. Instantaneamente eu lembrei "Enrico, sim!"
Me jogo com fúria naquela obra prima, minha língua lambuza cada centímetro, sua voz agora soava tão usual para mim, como se eu a ouvisse todas as noites por muitos anos
Quanto mais Enrico urrava, mas eu pensava q aquela era a melhor pica que eu conseguia me lembrar

O formato era perfeito, a cabeça se alojava com naturalidade no fundo da minha boca
Tuas mãos ásperas no meu cabelo e eu de joelhos mamando com muita gana
Em um rompante, ele me afastou do seu colosso e ajoelhou-se diante de mim
Sugou tudo que quis, pressionou cada músculo do meu corpo, acariciou minha barba e enfiou os dedos em minha boca
"Chega, quero estar dentro de ti" reparei que foi minha primeira frase depois de algum tempo

Na pressa de saciar nossa fúria, derrubamos quase tudo que estava na mesa
Seus braços esticados sob o móvel de madeira escura
Meu pau roçando em tuas coxas, nossos suspiros sincronizados, quase já não posso me conter, a piroca molhada entra como um rojão
Nossas peles, nosso ritmo, livros e pincéis pelo chão, sinfonia sublime de gemidos, se pode ouvir em todo o quarteirão
Nossa valsa vira funk e tu rebola até o fim
Gozamos juntos num uníssono e nos deixamos cair exaustos








Escultor


Enfim, o silêncio contrasta a euforia que se findou
Mais umas doses antes que tu vista tuas roupas, me olhe profundamente, meta a mão na maçaneta e saia sem nada dizer, eu esperava pelo menos um "Boa noite, para mim também foi um prazer"