Algo acontece na praia nesta manhã em que chegamos à ilha chamada Ânus. Um mundaréu de gente se aglomera para ver alguma coisa na areia que eu não imagino o que seja. Pela atmosfera mágica deste lugar, não me espantaria se fosse uma sereia morta. Deve ser algo realmente terrível, pois tem gente confortando gente e um outro grupo de pessoas entoam um canto triste que mais se aproxima de uma saudade antecipada.

Há cada vez mais pernas. Duas a duas, elas tornam impossível de ver o objeto de tamanha comoção. Do meio da multidão sai uma jovem que parece horrorizada, ela recebe alento no ombro esquerdo de uma senhora, aparentemente, com bem mais idade que sorri uma satisfação desavergonhada movimentando músculos, imagino, há muito adormecidos pela desculpa da idade. Ela diz: “Está tudo bem, menina! A profecia apenas se cumpriu...” Aproveito-me do espaço aberto e me lanço por entre os demais para enfim saber o que há na areia. Mas só fará sentido essa revelação se você souber mais sobre essa ilha tão fantástica, localizada no Oceano Pacífico.

Além do nome, o que torna este aqui um lugar especial é o fato de ser o lar de duas divindades que se alimentam do orgasmo humano em troca de cura e libertação na vida sexual. Talvez você não saiba, mas boa parte da angústia que muitas pessoas carregam está ligada, de alguma maneira, à vida íntima. Essas pessoas chegam a ilha buscando soluções, são trazidas a ela por meio de seus nativos, que a serviço das tais divindades se aventuram sexualmente mundo a fora levando as boas novas do tesão pleno com a missão de recrutar aqueles que hão de saciar com seu gozo a deusa Amorarim e o deus Otoromum.

Os deuses habitam lugares mágicos nas profundezas da ilha. Amorarim prefere a parte costeira, onde derrama seus cabelos de maré e desliza seus pés de areia. Otoromum camufla seus galhos na mata e a entrada de sua morada é uma grande árvore. Sente-se que está se aproximando dos deuses por meio do calor de sua umidade que se espalha por toda a ilha e chega a formar um caminho luminoso que nos leva até seu interior, onde encontramos águas borbulhantes em aparente fervura, porém sua real temperatura é excitantemente convidativa.

Para encontrar Amorarim e Otoromum, você tem que cair de boca e se esbaldar. Lavar-se de toda a sua farsa e limitação. As tensões simplesmente desaparecem e seu corpo é mais seu do que nunca antes, mas ele ainda tem o compromisso de entrega às divindades que assumem papel de amantes sagrados a serviço da carne em busca de profanar toda uma existência hipócrita e ignorante que vem poluindo cada pedaço do seu próprio corpo. E desmatando o seu gozo sagrado! Para encontrar os deuses é preciso entrega, é preciso olhar para dentro de si.

Para cada ser humano, a deusa e o deus tem uma abordagem pessoal que envolve flamejar todos os sentidos em nome de pegadas e puxadas, mordidas e lambidas, beijos e chupadas, metidas e mais metidas. Uma trepada suja e satisfatória. Uma transa pura e sublime. Mal cabe aos nossos sentidos dizer o que está acontecendo, porque agora tudo é novo e intenso. Depois que os seres divinos estão saciados por aquele momento, você tem de volta todo amor e respeito que perdeu por ti mesmo, pelas pessoas que te tocam e pelas quais se quer tocar.

Meu nome é Adão, e estou aposentado. Finalmente! Finalmente fiquei sem desculpa para não acertar antigas pendências comigo mesmo e meu casamento. Eu sabia e minha esposa, Clara, também sabia que eu precisava sair do armário. Sou colecionador de vídeos da década de 70, de todos tipos, de todos os formatos, desde rolos de filme até formatos virtuais. Uma de minhas obsessões era encontrar um filme pornô chamado “As Aventuras dos Piratas Selvagens Na Ilha Anal”.

















Nunca tinha ficado tão ansioso por uma peça assim. Claro que como colecionador, sempre que encontrava uma raridade, eu sentia o olho do meu cu brilhar, mas dessa vez ele não só brilhava, como sorria e piscava. Senti que precisava de mais uma banho naquele dia que chegava aos sete graus de temperatura. Quando abri a ducha, percebi que algo de diferente ocorria comigo. Me pareceu que podia sentir cada gota encostar na minha pele e era como se cada uma delas me estimulava de alguma maneira. Minhas mãos, numa delas o sabonete, percorriam o meu corpo com a sabedoria que desconhecia em mim mesmo. Quando chegaram no meu caralho, ele já começara a se erguer como que em sinal de aprovação ao movimentos. Vi que não pretendia parar de esfregar meu membro ensaboado. Uma de minhas mãos já pegara a duchinha, porém fração de segundo em que tive vergonha do que acontecia com meu corpo, foi o suficiente para eu cortar o barato, terminar de me enxaguar, pegar a toalha e sair do banheiro antes que alguém me visse. Mas quem podia ver o que acontecia na privacidade do meu próprio banheiro? Sei lá… sei que às vezes, sinto-me voyer e espião de meus próprios desejos, cúmplice e delator, advogado e carrasco. Porém, dessa vez havia um olhar que estava ignorando ou sendo impedido de perceber com clareza.

Só queria que meu filme chegasse o quanto antes. Ainda faltava uma hora para o combinado, porém o relógio parecia conspirar contra minha sanidade martelando o ponteiro como se fossem me pendurar numa cruz de madeira.

Continua...
E como...
capacho
Nele, para melhor aceitação, principalmente, do público punheteiro norte-americano, Amorarim e Otoromum são chamados Powerful Pussy e King Kong Dong, a quem os tais piratas querem sequestrar, mas acabam seduzidos por ambos e condenados a participar de uma orgia com os nativos da ilha e transar até morrer. Obviamente, muito do que consta na produção não passa de putaria criativa. Mesmo assim, foi o mais perto que pude chegar de um livro secreto e muito raro sobre um tipo de adoração orgástica. Livro este que nunca terminou de ser escrito. Ele circula de mão em mão e ninguém que o procura chega a encontrar de fato. Uma filosofia muito antiga na qual a libertação se dá através da aceitação dos próprios desejos e prazeres. Reza a lenda que durante milênios rituais são feitos pelo mundo para ofertar orgasmos aos Deuses. Depois de anos buscando o tal filme em qualquer formato, encontrei um cara na internet chamado Tambor, que possuía uma cópia em 8mm, e então o próprio prometeu entregá-lo em minha casa.